ALEXIS FONTEYNE
Em apenas 5 dias, o Brasil viu abrir-se diante de si uma nova avenida de oportunidades e, pouco depois, foi obrigado a confrontar-se com as próprias limitações. Na 6ª feira (10.jun.2022), o país foi convidado a ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um grupo seleto formado por nações mais desenvolvidas e que poderá nos ajudar na busca de investimentos estrangeiros. Na 3ª feira seguinte (14.jun), o resultado de uma pesquisa conduzida pelo Institute for Management Development (IMD), em parceria com a Fundação Dom Cabral, mostrou que perdemos duas posições no ranking de competitividade global, ocupando agora a 59ª posição entre 63 países avaliados.
A aparente contradição, algo tão comum em um país como o nosso, vítima de desníveis econômicos e sociais imensos, na verdade mostra uma realidade com a qual temos de nos acostumar: o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para ser considerado um país justo. Nossas imperfeições ainda são latentes e precisam ser combatidas com afinco, diuturnamente.
O resultado desastroso, que nos deixou à frente apenas de África do Sul, Mongólia, Argentina e Venezuela, se deve a uma avaliação negativa nos quesitos infraestrutura, mão de obra qualificada e segurança jurídica. Também ficamos estagnados em quesitos como investimento em inovação e adoção de tecnologias nos setores públicos e privados. Outros países avançaram nessas áreas, nós não.
Esse diagnóstico retratado na pesquisa do ranking global de competitividade está explícito na Mandala do Custo Brasil, uma parceria do Movimento Brasil Competitivo (MBC) com o Ministério da Economia e que identificou que o Custo Brasil impacta em R$ 1,5 trilhão nos investimentos, algo em torno de 22% do PIB. É uma amarra muito pesada que nos puxa para baixo enquanto nação.
Está tudo na Mandala. Nossos problemas de infraestrutura representam R$ 190 bi a R$ 230 bilhões nessa conta; capital humano significa R$ 260 bi a R$ 320 bi nessa equação; e a insegurança jurídica custa R$ 160 bi a R$ 200 bilhões. O Brasil também sofre com baixo volume de investimentos em inovação e a discreta, quase inexistente, adoção de tecnologias nos setores públicos e privados. Prova disso é que ainda sofremos com burocracias absurdas na máquina estatal e vemos nossos cérebros, muitos deles precoces, optando por arrumar as malas e desenvolver seus talentos no exterior.
Mas temos de ter clareza que não estamos em uma terra completamente arrasada. Tanto que fomos convidados a ingressar na OCDE. Algo que não envolve acordos políticos, e sim, o cumprimento de uma série de obrigações e a garantia de que vários outros mecanismos precisarão ser observados para que continuemos no seleto grupo. É algo bom para que consigamos investimentos internacionais com mais rapidez e qualidade? É ótimo. Mas implica o ônus de uma maior fiscalização e maturidade para permanecer com o bônus de ser um país integrante da OCDE.
Precisaremos ser mais efetivos no campo regulatório, ter um sistema tributário mais maduro, atuarmos com mais transparência e melhorar a nossa governança. Aprimorar, corrigir e superar todos os gargalos e barreiras apontadas pelo ranking do IMD. Em nome desses compromissos, criamos a Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo. É por eles que vamos lutar, porque os brasileiros que trabalham, produzem, pagam impostos, criam filhos e amam esse lugar merecem um país melhor.
Alexis Fonteyne(Novo-SP) é deputado federal e presidente da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo
Leia o artigo em: https://www.poder360.com.br/opiniao/ocde-e-queda-no-ranking-da-competitividade-contradicoes-do-brasil/
Comments